Este será o terceiro e último post sobre as 3 fases do Arch Enemy, cada qual com um vocalista diferente. Os dois primeiros foram o sueco Johan Liiva e a alemã Angela Gossow, que se aposentou e convidou para o Arch Enemy Alissa White-Gluz, uma talentosa canadense que só precisava de uma chance.
Quando era criança, Alissa sonhava em se tornar jogadora de baseball ou astronauta, mas, durante a adolescência, descobriu o amor pela arte, inicialmente pela pintura. A partir daí, passou a ir a shows (três ou quatro por semana), até que se candidatou a uma vaga como vocalista numa banda local de Quebec. A partir daí, tudo mudou.
Inicialmente, White-Gluz se interessou por punk e hardcore por causa dos valores anarquistas de muitas dessas bandas, no entanto acabou atraída pela sonoridade do heavy metal, gênero que ela considera ser erroneamente visto como violento ou até tecnicamente subestimado, mas que seria inteligente e bastante sofisticado.

Fundadora da banda The Agonist — com a qual ficou relativamente conhecida, antes de ser convidada para o Arch Enemy —, Alissa é contra o consumo de carne, álcool e drogas. Ao se aposentar dos palcos e virar empresária do grupo, a igualmente vegana e atéia Angela Gossow fez questão de passar o bastão para a canadense.
No Arch Enemy Alissa White-Gluz brilhou mundialmente
Apreciadora de poesia e fotografia, Alissa é bem pé no chão e gosta de produzir ela mesma suas roupas. Contudo, devido ao formato atual da indústria musical no qual as bandas precisam fazer turnês para arrecadarem e sobreviverem, ela excursiona e faz até 250 shows por ano, o que não deixa muito tempo para outras atividades.
O Arch Enemy é uma das bandas mais requisitadas da atualidade, em parte pelo tempo de estrada e das várias canções legais que ajudaram a oxigenar o heavy metal, deixando-o mais pesado ainda, como manda o figurino do death metal, porém harmonizando-o com trechos melódicos.
Em breve, poderemos ver o grupo evoluir mais e se tornar headliner de festivais, só o tempo dirá. Contudo, parte do sucesso atual também se deve à entrada do guitarrista americano Jeff Loomis e principalmente ao talento de Alissa White-Gluz, que já gravou dois ótimos álbuns com a banda: “War Eternal”e “Will to Power”.
“War Eternal” (2014) marcou a estreia de Alissa no Arch Enemy
A primeira faixa do primeiro CD sem o guitarrista Cristopher Amott é “Tempore Nihil Sanat (Prelude in F Minor)”, abertura para a faixa seguinte, “Never Forgive, Never Forget”, canção com performances impressionantes, em especial da vocalista e do baterista, e que funciona como cartão como visitas da nova formação.
Seguindo a sequência do álbum, a canção-título é a terceira, trouxe outra ótima letra de Michael e viria a se tornar uma das clássicas; é a cara da fase Arch Enemy Alissa. Nesse disco, a cantora mostra que é ainda melhor e muito mais carismática que os dois bons vocalistas que a antecederam. Confira “War Eternal” em versão ao vivo:
“All the Pages Burn” tem letra de Alissa e melodia de Michael Amott e, desde que foi gravada, está sempre no setlists dos shows, embora não seja das melhores da banda. Também escrita pela vocalista e com melodia composta pela dupla de guitarristas, a existencialista “No More Regrets”é bem mais rápida e muito mais consistente.
“You Will Know my Name” é uma das mais importantes do álbum, da trajetória do grupo e quiçá do death metal melódico, embora merecesse uma harmonia um pouco mais caprichada. Mais uma excelente letra assinada pelo líder da banda Michael Amott, que também é autor da melodia em parceria com o guitarrista Nick Cordle.
Como de hábito, “Graveyard of Dreams” serve de introdução para “Stolen Life”, uma das melhores do CD e do própria banda. Curiosamente, o single e o videoclipe ganharam upgrades com riffs refeitos pelo grande guitarrista Jeff Loomis (que subsitituiu Cordle, cujas gravações estavam originalmente no álbum).
As letras de Alissa são bem superiores às da vocalista antecessora, possuem boas rimas e conteúdos bem mais interessantes, mesmo para quem não concorda com as ideias anarquistas, veganas, céticas e ateístas da autora dos versos de “Time is Black” — uma boa canção contendo eficientes solos de guitarras.
Também de autoria de Alissa White-Gluz, “On and On” tem outra letra interessante que fala de morte e traição, mas que também pode ser interpretada como estímulo para seguir adiante e correr atrás dos nosso objetivos, utilizando a experiência de vida. A canção é boa e contém excelentes solos baseados em música erudita.
O ponto alto do importante disco é o hit “Avalanche”, do qual quase todos os integrantes participaram na composição, exceto o baixista. A letra é novamente de White-Gluz e é carregada de existencialismo e ceticismo. Não obstante, a versão ao vivo e com Jeff Loomis é muito melhor, confira:
Com outra letra sensacional de Amott, a belíssima “Down to Nothing” é capaz de emocionar (os fãs de som pesado) porque contém lindos versos, ótima melodia, instrumental fantástico com bateria demolidora e solos mais uma vez temperados com música erudita; a voz de Alissa está espetacular:
Fechando, a instrumental “Not Long for this World”, de autoria de Michael Amott, convida o ouvinte a uma viagem de pouco mais de 3 minutos na qual se pode saborear o som dos instrumentos muito bem gravados, bem como a refletir sobre a experiência de ouvir o álbum “War Eternal”, um dos melhores do heavy metal.
Guitarra Elétrica Tagima

Captação com três single coils remete a grandes timbres da história da música. Inclui uma ponte trêmulo e tarraxas blindadas cromadas. Com os controles contado com 2 tones e 1 volume.
“Will to Power” (2017) trouxe Alissa White-Gluz + Jeff Loomis
“Will to Power” é o segundo CD com Alissa nos vocais e o primeiro a contar com o exímio guitarrista Jeff Loomis. O álbum contou com a seguinte formação: Alissa White-Gluz (vocal), Micahel Amott (guitarra), Jeff Loomis (guitarra), Sharlee D’Angelo (baixo) e Daniel Erlandsson (bateria).
Como de costume, a instrumental curtinha “Set Flame to the Night” serve de introdução para “The Race”, que já evidencia que, se o Arch Enemy já era bom, ficara muito melhor ainda com White-Gluz e Loomis, certamente a formação clássica da ótima banda de death metal melódico:
A boa letra de Michael para “Blood in the Water” encaixa muito bem no death metal, embora enaltecer a vingança seja pra lá de discutível . Já o instrumental composto por Amott e Erlandsson é pauleira pura. A letra é ainda melhor em “The World is Yours”, que enaltece o individuo (a parceria anterior se repetiu na composição instrumental).
Com letra de Michael Amott inspirada no pensamento de Nietzsche e citando o “espírito de rebanho”, “The Eagle Flies Alone” enaltece novamente o indivíduo e alerta contra falsos líderes religiosos. A melodia poderia ter sido um pouco melhor. É uma canção mais comercial que virou single e ganhou videoclipe:
“Reason to Believe” tem Alissa mostrando porque é uma das maiores vocalistas do heavy metal na atualidade. A linda, doce e suave voz contrasta com o conhecido e impressionate tom gutural numa belíssima balada composta pelos irmãos Michael e Cristopher Amott que enaltece a persistência e a luta pela vida . Tem videoclipe:
A parte musical de “Murder Scene” ficou novamente por conta de Amott e Erlandsson — curiosamente, o baterista compôs quase todas as músicas do CD —, já a letra com rimas bem feitas foi composta por Alissa White-Gluz. Também escrita por ela, a letra de “First Day in Hell” remete aos horríveis assassinatos no Holocausto.
“Saturnine” é a introdução para “Dreams of Retribution”, que narra a visão de um detento que pensa em se vingar. O vocal e a bateria de death metal destacam-se, ficando a cargo das guitarras a parte melódica. Os versos de “My Shadow and I” mostra que Alissa é a letrista da banda que melhor usa rimas e licenças poéticas.
Encerrando um ótimo álbum, a letra composta por Alissa e Michael para “A Fight I Must Win” tem ótimas rimas e uma mensagem inteligente que diz que o mal (e o bem) está dentro de cada um de nós, incentivando o ouvinte a lutar para conquistar a realização. O destaque é mais uma vez a voz da rainha do death metal melódico.
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