Entre os álbuns do Led Zeppelin, destaca-se um póstumo que homenageou o baterista “Bonzo” Bonham e os fãs da maior banda de hard rock de todos os tempos
Como vimos nos post anteriores nesta série que destaca os álbuns de estúdio do Led Zeppelin, a banda alcançou muito sucesso na década de 70, mesmo rompendo barreiras, protagonizando polêmicas, inovando radicalmente e remando contra a maré. Apesar do ceticismo inicial de alguns críticos, que achavam que era apenas um guitarrista imitando Jimmy Hendrix e um cantor imitando Janis Joplin, ou mesmo do próprio Hendrix, que achava que tudo aquilo era “chupado” dos bluesmen americanos, o zepelim de chumbo voou alto, muito alto.
A morte de John Bonham
Em 25 de setembro de 1980, o mundo do rock foi sacudido pela morte inesperada de John Bonham, o talentoso baterista do Led Zeppelin. Sua morte repentina, devido a complicações decorrentes de excesso de álcool, fechou abruptamente o capítulo de uma das bandas mais inovadoras e influentes da história.
Apesar dos destaques evidentes da guitarra de Jimmy Page e da voz de Robert Plant, o som grave da bateria de John Bonzo Bonham com seu estilo originalíssimo e que muitas vezes atrasava a marcação do tempo em frações de segundo (o que dava uma apimentada a mais no som) também fazia parte da essência do Led Zeppelin. Sem Bonham, o Zeppelin tomou a única decisão que parecia respeitosa e correta: encerrar as atividades. Assim, 1980 marcou o fim do Led Zeppelin.
“Coda”
Dois anos após o fim, em 1982, o álbum “Coda” foi lançado. Uma compilação de faixas gravadas em diversos momentos da carreira do Led Zeppelin, mas que não haviam sido aproveitadas em álbuns de quando a banda estava na ativa. “Coda”, que no mundo da música sugere um trecho final que resume ou conclui uma composição, foi a maneira encontrada pelo Zeppelin para se despedir formalmente de seus fãs e fechar sua discografia com chave de ouro.
O disco de vinil foi lançado contendo originalmente oito faixas, duas delas gravadas ao vivo e trabalhadas em estúdio posteriormente para a retirada de sons do público e adição de overdubs. Na versão em CD, a partir de 2008, foram adicionadas mais outras gravações: “Baby Come On Home”, “Travelling Riverside Blues”, “White Summer”, “Black Mountain Side” e “Hey, Hey, What Can I Do”.
“We’re Gonna Groove” é a primeira faixa, uma versão de uma música do americano Ben E. King. Na versão do Zeppelin, a canção virou um rock and roll com doses de psicodelia, soul e, pela primeira vez no que tange os álbuns do Led Zeppelin, jazz. A canção foi gravada durante um show no Royal Albert Hall, em Londres, com a adição posterior de overdubs de guitarra. A letra tem conotações sexuais e expressões de duplo sentido, bem ao estilo do quarteto.
“Poor Tom” é uma canção acústica composta em 1970 e que iria entrar no álbum “Led Zeppelin – 3”, mas acabou preterida. A música inicia com bateria cadenciando o ritmo e tem seu ponto alto num solo de gaita feito por Robert Plant. A letra tem rimas interessantes e conta a história de Tom, um proletário traído pela mulher.
“I Can’t Quit You Baby” é um cover da pesada do blueseiro norte-americano Willie Dixon. Uma das melhores faixas do disco, graças aos solos demolidores de Jimmy Page, que foi gravada ao vivo no Royal Albert Hall. A letra é bem romântica e traz toda aquela carga de tristeza e desespero típica do blues.
“Walter’s Walk” é uma boa canção com um solo de guitarra cortante como uma navalha. A faixa foi gravada em 1972 e iria ser incluída no álbum “Houses of the Holy”, mas acabou ficando de fora. Os vocais e overdubs de guitarra foram acrescentados em 1981. Ela inicia com ótimos riffs e se transforma num bom rock and roll com o ápice num ótimo solo de Page (acrescentado posteriormente). A letra é poética e construída com ótimas rimas.
“Ozone Baby” abre o lado 2 desse LP duplo e tem excelente instrumental. Trata-se de uma boa canção de hard rock com bons arranjos, ótimo solo de guitarra e alma de blues rock. Boa canção, apesar do refrão muito repetitivo e de uma letra muito pouco inspirada.
“Darlene” começa como uma canção de hard rock bem típica do Led Zeppelin graças aos ótimos arranjos e à voz de Plant. No entanto, ela surpreende com instantes de boogie-woogie e jazz. Como de hábito, excelentes riffs e solos de guitarra são executados com a maestria de Page. por sua vez, Jones tempera com doses de piano e baixo firme na marcação, assim como “Bonzo” na bateria.
“Bonzo’s Montreux” é um solo de bateria gravado em um estúdio da Suíça em 1976. Graças ao domínio de Jimmy Page na técnica de produção musical, a gravação foi alterada e ganhou texturas e complexidade com utilização de tecnologia e de um pedal harmonizer.
Totalmente gravada em um estúdio na Suécia, “Wearing and Tearing” pode ser considerada uma resposta ao punk rock. A canção possui a crueza a visceralidade características do punk, remetendo ao rock básico, o mesmo acontecendo com a letra.
“Baby Come On Home” é uma ótima faixa bônus que foi totalmente gravada em estúdio. Trata-se de um blues típico com letra idem. A letra romântica fala de dor de cotovelo e solidão.
“Travelling Riverside Blues” é um cover do lendário pai do Blues, Robert Johnson. A letra maliciosa utiliza o recurso poético do duplo sentido para falar de temas picantes, como: “Agora você pode espremer meu limão até o suco escorrer pela minha perna”, expressão utilizada também em “Lemon Song”, do álbum “Led Zeppelin II”.
“White Summer” é uma canção original dos Yardbirds, na qual somente Jimmy Page toca. A canção é uma espécie de amálgama entre o folk do mundo ocidental e o folk do mundo oriental. Confira uma versão ao vivo com as participações de John Bonham na bateria e John Paul Jones no baixo, abaixo:
Já “Black Mountain Side” é uma canção acústica instrumental gravada por Jimmy Page utilizando uma afinação diferente e um violão Gibson J-200. Ela teria sido “chupada” dos arranjos feitos pelo escocês Bert Jansch em cima da canção folk irlandesa “Black Waterside”.
“Hey, Hey, What Can I Do” é uma bela balada folk estruturada na técnica de Jimmy Page tocando guitarras acústica de seis e de doze cordas. Por sua vez, a letra é formada por boas rimas e foge um pouco aos padrões escatológicos do grupo; é muito romântica e fala até em orar para Deus.
Técnicas utilizadas por John Bonham
Técnica de mãos e pés:
Single Bass Drum: Bonham era famoso por seu uso do bumbo simples, conseguindo fazer parecer que estava tocando com dois bumbos.
Triplets: Ele utilizava triplets com o bumbo de forma muito eficiente, adicionando uma complexidade rítmica característica.
Afinação e pele:
Afinação: Bonham afinava seus tambores de forma específica para obter um som profundo e ressonante. Ele frequentemente afinava os tons e a caixa mais altos.
Peles: Usava peles de dois filmes em seus tambores, que ajudavam a produzir um som mais gordo e cheio.
Microfonação:
Microfonação distante: Jimmy Page e o engenheiro de som do Led Zeppelin, Glyn Johns, desenvolveram uma técnica de microfonação que capturava o som ambiente da sala, resultando em uma sonoridade muito mais intensa.
Recursos eletrônicos
Embora John Bonham fosse mais conhecido por sua técnica e habilidade do que pelo uso de efeitos eletrônicos, há registros de algumas experiências no estúdio:
Pedal Flanger nos pratos:
Estúdio: Em algumas gravações, o produtor Jimmy Page e os engenheiros de som podem ter usado efeitos de flanger e phaser nos pratos de Bonham para criar um som psicodélico e único. Isso não era algo que Bonham fazia ao vivo, mas sim uma técnica de pós-produção no estúdio.
Exemplo: A música “Kashmir” do álbum Physical Graffiti é um exemplo onde efeitos de estúdio foram usados para criar uma atmosfera lisérgica e hipnótica, embora não se tenha certeza se o flanger foi utilizado especificamente nos pratos.
Outros efeitos:
Reverb e Delay: Bonham utilizava o reverb natural de salas grandes e delay nas gravações para adicionar profundidade ao seu som.
Processamento de áudio: O uso de microfones de alta qualidade e processamento de áudio em estúdio também contribuíam para o som distintivo de suas gravações.
Os álbuns do Led Zeppelin
O fim da banda não significou sua morte, mas uma transfiguração. A influência do Led Zeppelin continuou viva e pulsante nas correntes do rock. As batidas inconfundíveis de Bonham, os riffs imortais de Page, a maestria melódica de Jones e a voz arrebatadora de Plant permanecem referências fundamentais para bandas e artistas em todo o mundo.
De forma mais ampla, o impacto do Led Zeppelin pode ser considerado em termos de atitude e abordagem à criação musical. Sua disposição para misturar gêneros e a busca constante por inovação estimularam uma mentalidade de experimentalismo entre os músicos. A própria ideia de álbuns conceituais, a narrativa épica dentro da música, a exploração meticulosa de temáticas e sonoridades, tudo isso pode encontrar raízes na tradição que o Led Zeppelin ajudou a moldar.
Coda: álbum de vinil do Led Zeppelin
Coda é uma coleção póstuma de faixas inéditas, lançada em 1982. O álbum oferece um vislumbre final da genialidade do Led Zeppelin, com uma mistura de rock clássico, folk e blues.
A influência do Led Zeppelin é notada também na forma como os artistas encaram a indústria da música. A banda foi pioneira no que diz respeito a direitos autorais, licenciamento de músicas e até mesmo na concepção de tours de shows, estabelecendo novos padrões para o que uma banda de rock poderia ser e como poderia operar dentro do campo da música.
Encerramos aqui esta série dedicada aos álbuns de estúdio de uma das importantes bandas da história da música.
Abração!