Demos um pente fino em dois excelentes álbuns do Led Zeppelin: “Led Zeppelin III” e o álbum sem nome
No post anterior, falamos do surgimento de uma das maiores bandas da história da música . Jimmy Page utilizou o nome New Yardbirds para cumprir alguns compromissos contratuais do The Yardbirds e, pouco depois, decidiu fazer audições e recrutar Robert Plant , que convidou seu amigo John Bonham. A seguir, John Paul Jones, outro grande músico que já havia trabalhado com Page (junto a Jeff Beck e Keith Moon), se juntou ao grupo, e assim nascia a lenda do Led Zeppelin.
Os álbuns do Led Zeppelin entre 1970 e 1973
Entre 1970 e 1973, o Led Zeppelin, já firmado como ícone do rock, aventurou-se para além, explorando territórios inauditos. “Led Zeppelin III” e a obra prima “Led Zeppelin IV” surgiram dessa era de ousadia.
O ano de 1970 trouxe “Led Zeppelin III”, uma reviravolta que distanciou-se dos hinos pesados e toques de blues dos primeiros trabalhos. O álbum é um mosaico onde cada pedra foi cuidadosamente talhada com elementos de folk, acústicos e uma boa dose de misticismo pagão. As veias rurais e reflexivas da banda emergiram magníficas em “That’s the Way” e trouxeram uma doçura melancólica em “Tangerine”. Em “Immigrant Song” ressoa o rugido das conquistas vikings, instigando a imaginação a vagar por paisagens férteis e áridas. Apesar do nariz torcido de parte da crítica, o terceiro álbum é uma obra de arte e convite a contemplar o horizonte distante, onde o barulho da fama se desvanece e a profundidade artística ganha destaque.
Passado um ano, o mundo foi presenteado com uma criação sem nome, que viria a ser reverenciada como “Led Zeppelin IV”. Este álbum, também conhecido como “Álbum sem Nome” e “Four Symbols”, sacudiu a história da música. Com a magnitude de “Black Dog” e a energia de “Rock and Roll”, o grupo prestou reverência ao passado, mas foi com “Stairway to Heaven” que o Led Zeppelin gravou seu nome na eternidade. Esta epopeia musical, num gradiente que vai da serenidade de uma flauta à intensidade de uma torrente de solos elétricos, tornou-se um hino.
“Led Zeppelin III” (1970)
Essa obra musical coesa começa com a ótima”Immigrant Song”, uma das melhores e mais empolgantes rock songs do Zeppelin. Por sua vez, a letra traz uma novidade em relação às composições dos dois primeiros discos e se refere claramente a fatos históricos (países escandinavos e invasões dos vikings às ilhas britânicas) e não mais a mulheres, sexo ou romance.
Já a segunda faixa, “Friends”, é uma canção acústica que traz muitos elementos folk. Para gravá-la, Jimmy Page mostrou novamente sua originalidade, optando por usar em seu instrumento uma afinação inventada por ele mesmo e baseada em Dó. A letra singela discorre sobre amizade. A canção serve de introdução para a próxima faixa.
“Celebration Day” retorna ao rock and roll e é quase que mixada com a faixa anterior, uma canção na qual o som da bateria muito bem gravado de “Bozo” Bonham é o principal destaque. A letra é repleta de poesia e pode ser interpretada como a percepção dos artistas ao momento e à época nos quais viviam, com referências a celebrações, perseverança e sucesso (ideia “chupada” posteriormente pelo AC/DC em “It’s a Long Way to the Top (If You Wanna Rock ‘N’ Roll)”.
A quarta música é um blues e uma obra de arte que fala em amor e traição no qual Page demonstra domínio de escalas musicais e impressiona por sua fluidez na guitarra através de solos, que se tornariam paradigma para o gênero. Os vocais em “Since I’ve Been Loving You” também confirmam Plant como um dos melhores vocalistas de seu tempo. John Paul Jones toca o teclado e faz o baixo com pedais.
O lado A fecha com “Out On the Tiles”, um rock and roll com ótimos riffs e ritmo quebrado que serviria de modelo para muito do que viria pela frente no hard rock e no rock progressivo. A canção foi criada a partir de uma letra muito doida do baterista, a qual foi reescrita de uma forma mais palatável.
O lado B do vinil é um mergulho de cabeça na musicalidade folk e começa com a melodia criativa de “Gallows Pole”, cuja letra um tanto mórbida nos transporta para uma época sinistra. Uma canção carregada de poesia e boas rimas que falam de enforcamento, metais preciosos e sedução.
A seguir vem a bonita balada folk “Tangerine”, que foi composta por Jimmy Page no tempo dos Yardbirds e traz o guitarrista tocando pedal steel com muito estilo. Outra música enriquecida com uma letra poética e belas rimas no milenar idioma bretão.
Na sequência, “That’s the Way” é outra balada do mesmo lado do vinil que integra um contexto coeso calcado em folk music . A música foi imensamente influenciada pelo clima camponês de East Hampshire, onde aconteceu grande parte do processo criativo de “Led Zeppelin III”.
Por sua vez, “Bron-Y-Aur Stomp” foi composta em uma cabana no País de Gales e possui a mesma vibração rural das faixas anteriores. A letra também busca essa essência da vida no campo. Ela ganharia uma nova versão alguns anos depois.
Fechando o lado B e o long play com uma das capas mais criativas e conhecidas do Led Zeppelin , “Hats off To (Roy) Harper”, um cover de Charles Obscure. Um tributo a alguns dos grandes nomes do folk e do blues, como não poderia deixar de ser.
“Led Zeppelin IV” (1971)
O álbum abre com “Black Dog”, uma das melhores composições da história do rock. Com uma letra românica e libidinosa , “Black Dog” ganhou este nome porque um cachorro preto com bom gosto musical entrava a todo momento no estúdio durante a gravação do álbum. A intrincada linha do baixo de John Paul Jones guia o grupo e arrebata o ouvinte na primeira edição. Mais tarde, Roberto Plant sairia em carreira solo e batizaria sua banda de The Honeydrippers, por causa dessa letra.
A segunda faixa não deixa a peteca cair e nem o ouvinte respirar: a visceral “Rock and Roll” surgiu numa jam session e foi inspirada numa canção do cantor e pianista Little Richard, um dos pais do rock and roll, chamada “Keep A-Knockin'” e contou com a participação do pianista Ian Stewart, dos Rolling Stones, cujos integrantes assistiam as gravações do álbum. Como de hábito, letra romântica com final cheio de volúpia.
“The Battle of Evermore” é mais uma canção folk acústica, desta vez tocada com bandolim. A letra se refere novamente ao livro “O senhor dos Anéis”, como em “Ramble On”, do álbum “Led Zeppelin II”.
É difícil dizer afirmar que a quarta faixa é a melhor do álbum, porque as duas primeiras são excepcionais, mas não há dúvida em dizer que é a mais conhecida do grupo. “Stairway to Heaven” também pode ser definida como a canção perfeita do rock and roll e traz elementos e folk (no início e no fim), rock progressivo (no desenvolvimento) e de hard rock (no maravilhoso solo de guitarra de Page). Possivelmente o maior hino do rock em todos os tempos.
“Misty Mountain Hop” abre o lado B com a difícil missão de manter o altíssimo nível do vinil. E não é que consegue, graças principalmente à genialidade do baterista. Bonham dá uma verdadeira aula no hard rock pilotado pelo baixo e pelos teclados de Jones. Os produtores Jimmy Page e Peter Grant optaram por overdubs nos solos de guitarra, acertando em cheio mais uma vez. A letra ecoa uma época de contestação hippie e a contracultura.
Composta em parceria por Jimmy Page e Robert Plant, a canção “Four Sticks” traz uma letra cheia de sensualidade e duplo sentido. O maior diferencial é que Bonham usou quatro baquetas simultaneamente.
A penúltima faixa também foi composta por Page e Plant. “Going to California” é outra bela declaração de amor ao folk. Page e Jones tocam violão e bandolim. oUma letra poética que também reverbero movimento hippie e a contracultura.
Reafirmando o amor de Jimmy Page pelo blues raíz dos Estados Unidos, a música que encerra um dos melhores discos de todos os tempos é uma regravação da blueseira americana Memphis Minnie, “When the Levee Breaks”. A faixa é uma tempestade sonora que, enquanto ecoa, reverbera o domínio técnico da banda, e a expertise de Page e Bonham, que transmutam ritmo e melodia em algo palpável, quase tangível.
Canções que ainda hoje emocionam
É impossível omitir a incontida emoção que esses álbuns evocam. A expressividade nas composições, a alta sinergia entre os membros, e, acima de tudo, a coragem de aprofundar-se nas profundezas escuras e luminosas do som, encontraram um lar em “Led Zeppelin III” e “Led Zeppelin IV”. Plant, Page, Jones e Bonham foram os alquimistas de uma era, transformando letras, melodias, solos e harmonias em uma liga de ouro puro e eterno.
A fase de 1970 a 1973 foi, para o Led Zeppelin, um afloramento, um desdobramento de tudo que a banda sempre teve o potencial de ser. Nos sulcos de seus vinis, nas vibrações de cada corda e pele de bateria, repousa a essência do que eles sempre souberam: a música é infinita, e em suas mãos, um instrumento de transcendência e legado imortal. De fato, “Led Zeppelin III” e “Led Zeppelin IV” são mais que meros álbuns; são selos temporais de uma jornada inacabada, cujos ecos continuarão ressoando.
Led Zeppelin III (Disco de Vinil)
O vinil é ideal para entender como o Led Zeppelin se tornou uma das bandas mais bem-sucedidas da música, vendendo milhões de álbuns mundialmente. Excelente para ouvir algumas das mais celebradas canções da história do rock que continuam admiradas por fãs de todas as idades ao redor do mundo.
Voltaremos ao tema no próximo post. Abração!