Este post será o primeiro de uma série que vai analisar os álbuns do Led Zeppelin, iniciando com duas jóias raras do rock: “Led Zeppelin” e “Led Zeppelin II“
Considerado um dos maiores ícones musicas de todos os tempos, o Led Zeppelin mudou para sempre a história do rock comandado por um visionário e talentoso músico inglês chamado James Patrick Page. Oriundo da banda The Yardbirds, que também contou com outros monstros sagrados da história do rock, como Jeff Beck e Erick Clapton, além dos fundadores da banda Renaissance, Page é hoje é tido como um dos três guitarristas mais importantes de todos os tempos.
Page é mestre em diversas técnicas de guitarra, incluindo o uso de escalas diatônicas e pentatônicas moldado após muitos anos de treino e que conferiam a seus solos uma característica única. Sua técnica pioneira não se restringe apenas à destreza com os dedos, mas também à forma como ele usava o instrumento para produzir efeitos sonoros inovadores, como o uso do arco de violino em “Dazed and Confused”.
Num ambiente de contestação e efervescência cultural, o fim dos anos 60 marcou o surgimento de uma entidade que redefiniria o rock. Emergindo como uma Phoenix das cinzas dos Yardbirds e dos New Yardbirds, cujas chamas foram mantida acesas pelo genial Jimmy Page, o mundo conheceu em 1968 um quarteto que causaria um impacto tão relevante quanto um terremoto: Jimmy Page (guitarra), Robert Plant (vocal e gaita), John Paul Jones (baixo e teclados) e John Bonham (bateria).
Os primeiros álbuns do Led Zeppelin
Foi nessa primeira fase que o Led Zeppelin plantou as sementes do que viria a florescer como o hard rock e, posteriormente, o heavy metal. Suas contribuições não se atrelavam somente às suas melodias ou letras; elas ofereciam arranjos e solos que carregavam o peso de um som novo, audacioso, energético e autêntico. A fusão de blues com uma atitude espontânea e rebelde não só encapsulou o espírito da época, mas o transformou, provocando ondas de influência que reverberariam para sempre.
“Led Zeppelin” (1969)
O álbum de estreia batizado “Led Zeppelin” foi gravado em 1968 e lançado no início de 1969. Embora influenciado pelo pioneirismo de Jimy Hendrix, também foi uma declaração de independência criativa e um arauto de uma era que se iniciava. Com Page à frente, a banda se desvencilhava das amarras do rock básico e convencional, afundando suas raízes no solo do folk e do blues com uma ferocidade jamais vista, enquanto pavimentava caprichosamente o caminho para um som arrebatador.
Gravado em cerca de trinta horas e carregado de blues e folk, o trabalho é uma vasta tapeçaria de som, uma antítese da prolixidade; cada nota, cada pausa, cada arranque e desaceleração está carregado de complexidade, embora o som pareça ter sido gerado por forças primitivas. Apesar de não tenha agradado à crítica especializada, “Led Zeppelin” fez muito sucesso com o público.
A faixa que abre o disco foi batizada “Good Times Bad Times” e traz uma letra carregada de emoção que descreve com precisão e simplicidade a desilusão de um homem que leva um pé na bunda de sua amada. Contrastando com o romantismo da letra, Jimmy Page dispara um solo de guitarra que até hoje é impactante (imagine na época), o cartão de visitas do Led.
A segunda faixa se chama “Babe I’m Gonna Leave You” e descreve a sincera contradição de um homem que hora quer e hora não quer terminar uma relação amorosa. A melodia inicia de forma lenta e delineia um crescente, algo que de certa forma se tornaria uma das marcas dessa grande banda. O solo acústico encaixa com precisão e transforma a canção em clássico instantâneo.
A terceira música do long play, “You Shook Me”, é um cover do norte-americano Muddy Waters, um blues básico e apaixonado gravado originalmente em 1962. Os solos são executados por Jimmy com slide e também por John Paul Jons tocando teclado.
Logo a seguir, outro blues pesado com riffs de guitarra, vocal arrasador e letra impactante. Composta originalmente por Jake Holmes, “Dazed and Confused” serve como plataforma para John Bonham revolucionar a forma de tocar bateria. Uma verdadeira obra de arte musical. Assim como na segunda faixa, a canção acelera o andamento e se transforma num blues rock pesado, mas volta ao andamento inicial.
O lado B (sim, os LPs tinham dois lados) inicia com um balada folk e letra carregada de sensualidade chamada “Your Time Is Gonna Come”.
Logo a seguir, vem outra singela balada folk instrumental batizada “Black Mountain”, que serve para aclimatar o ouvinte para o que virá a seguir.
A terceira faixa do lado B é a ótima e acelerada “Communication Breakdown”, que utilizou técnicas de gravação inovadoras para os riffs de Page. Sem dúvida, uma das melhores músicas da banda que traz os quatro músicos muito inspirados, especialmente o guitarrista e o baixista.
A penúltima faixa é outro cover que ficou ótimo na voz aguda de Robert Plant. Com direito a solos de guitarra que se tornariam paradigmas para o gênero,”I Can’t Quit You Baby” é um blues composto em 1956 por Willie Dixon e que seria regravado também pelos Rolling Stones muito mais tarde, em 2016.
Para encerrar com chave de ouro, “How Many More Times”, uma canção muito boa que pode ser definida como a antítese de uma música comercial com nada menos que 8:22 minutos de duração e costurada por muitas viradas de bateria. Como não poderia deixar de ser, outro blues pesadão, mas com doses generosas de psicodelia. A letra aborda temas sexuais e politicamente incorretos para os dias atuais.
“Led Zeppelin II” (1969)
Logo após o grande sucesso de público com o álbum de estreia, o Led Zeppelin iniciou uma série de turnês pela Europa e pela América do Norte. Foi no meio dessa correria que eles concluíram as gravações de seu segundo LP batizado “Led Zeppelin II”(1969). Os riffs de guitarra foram em grande parte criados ao vivo durante improvisações de Jimi Page e posteriormente gravados em estúdio. A maioria das letras foi escrita em quartos de hotéis. As muitas fases de gravação do álbum foram produzidas em diversos países, muitas vezes em estúdios sem grandes recursos.
A qualidade de um dos melhores discos de rock de todos os tempos já seria digna de aplausos se tivesse sido alcançada de maneira convencional. No entanto, foi em meio a fusos horários e a um intenso corre corre. Essa “mágica” se deveu graças às impressões digitais do engenheiro de som Eddie Kramer, que trabalhara com Hendrix e que fora convocado por Jimi Page para o serviço. O próprio Page supervisionou tudo e participou de todas as etapas de gravação, ratificando sua genialidade.
A primeira faixa mudaria a história da música e se tornaria um hino do rock. Sem nenhum exagero, “Whole Lotta Love” é uma das mais inventivas e icônicas canções de rock de todos os tempos com uma letra repletas de conotações sexuais. Sua influência pode ser notada até mesmo em bandas com estilos muito distintos, como percebida na canção da banda The Smiths “How Soon is Now” (embora o guitarrista Johnny Marr tenha tido aceso a muito mais recursos técnicos e optado pelo efeito vibrato), uma das mais importantes dos anos 80.
A segunda e a terceira faixas nominada s respetivamente “What Is and What Should Never Be” e “The Lemon Song” têm andamentos lentos com um primoroso trabalho de bateria e letras repletas de romantismo, mas que, ao fim, incluem metáforas sexuais típicas daquela época de revolução sexual e contestação.
A seguir, a letra e a melodia de “Thank You” levam o ouvinte a uma viagem imaginária e românica por paisagens deslumbrantes com Jimmy Page acertando novamente ao optar solar com uma guitarra acústica. A voz de Robert Plant está linda e chega a emocionar o ouvinte, enquanto o maior destaque fica para o arranjador John Paul Jones tocando teclado (ode colocar essa faixa para sua avó ouvir que ela vai adorar, nem parece que foi feita por um grupo de rock pesado).
O lado B abre com outra faixa icônica, “Heartbreaker”. Nela, Jimmy Page introduziu solos de guitarra rápidos e cheios de personalidade, onde cada nota parece contar sua própria história. A letra é novamente repleta de referências sexuais.
Em seguida, uma empolgante canção, “Living Loving Maid (She’s Just a Woman)”, que eu considero uma das melhores músicas do Led Zeppelin graças, principalmente à bateria de “Bozo” Bonham e à guitarra de Jimmy. A letra com toques de humor faz referência ao flerte a uma “patricinha” mimada. Curiosamente, trata-se de uma canção da qual o quarteto nunca gostou e que nunca foi tocada ao vivo.
Por sua vez, a letra de “Ramble On” foi baseada na obra “O Senhor dos Anéis”, do escritor britânico J. R. R. Tolkien. Já a melodia inicia com uma levada folk e acelera para um hard rock bem sólido. O maior destaque fica com o vocalista Robert Plant.
Já “Moby Dick” é uma música instrumental baseada na obra de mesmo nome do escritor americano Herman Melville. É a música mais frequente citada quando alguém quer se referir à técnica do baterista John Bonham.
O disco fecha com outro cover de Willie Dixon. Só que é uma releitura. “Bring It On Home”, um blues raiz original foi transformado num blues rock, onde o maior destaque fica novamente para as guitarras do mestre Jimmy Page.
Muita inovação em”Led Zeppelin” e “Led Zeppelin II”
O Led Zeppelin ousou cruzar fronteiras sonoras e estilísticas, criando hinos atemporais e álbuns conceituais que se tornaram referências para inúmeras gerações de músicos. Desde o lançamento dos dois primeiros álbuns em 1969, a habilidade de Jimmy Page e sua abordagem inovadora para a guitarra foram fundamentais para a transição do rock and roll básico para um som mais complexo e dinâmico.
A história do rock pode ser contada de muitas maneiras, mas poucas são as bandas que podem ostentar uma narrativa tão rica, tão cheia de paixão e inovação, como a do Led Zeppelin dos anos de 1968 a 1970. Eles não apenas criaram música; eles foram pioneiros em uma jornada, um caminho que ainda hoje trilhamos ao seguirmos os ecos de suas canções.
Led Zeppelin – The Broadcast Collection 1969 – 1995
Coletânea que reúne gravações ao vivo, capturando momentos icônicos. Uma oportunidade de ouvir performances históricas e raras, abrangendo desde os primeiros anos da banda até concertos de reunião posteriores. Destaca a evolução musical do Led Zeppelin e a energia de suas apresentações ao vivo.
Voltaremos ao tema nas próximas publicações. Espero que tenham gostado.